Crônicas de Duque

“...Um cão não busca grande carros, casas luxuosas, ou roupas de marca. Com água e comida ficará bem. Um cão não se importa se você é rico ou pobre, inteligente ou idiota, espeto ou burro. Dê seu coração que ele lhe dará o dele. Quantas pessoas podem te fazer tão puro e especial? Quantas pessoas fazem você se sentir realmente extraordinário?” (Filme Marley & Eu)
Vou falar agora de um personagem que já citei duas vezes neste blog, trata-se de um cão chamado Duque. O Duque era um cachorro vira-lata que ganhei quando tinha mais ou menos 7 ou 8 anos de idade. Veio para a minha casa quando ainda estava bem novinho e com o passar do tempo o duque foi crescendo até se tornar um belo cão. Companheiro, guardião e amigo de todas as horas, inclusive das minhas brincadeiras. Eramos grandes e bons amigos. Mais que um cachorro de estimação, o Duque era meu fiel e leal escudeiro. De tudo compartilhávamos, até as broncas recebíamos juntos...rs!

O duque tinha pelos bem negros e era um cão bem cuidado. Como morávamos apenas eu e minha avó, quem acabava ganhando a função de banhá-lo todos os dias era quem? Às vezes eu...rs! Inclusive de limpar as suas necessidades fisiológicas diárias. Por não ter a opção de dizer "não" àquela terrível missão, eu acabava realizando essa martirizante tarefa...rs!

Estávamos quase sempre tomando banho juntos, pois grande eram os momentos de sujeira, um motivo para minha avó gritar bem alto: "Vou bater em vocês dois!", quando me via com as roupas todas sujas de terra ou lama, tendo como cúmplice, o Duque.


Como falei antes, eu morava só com minha avó materna e quase sempre não tinha com quem brincar ou compartilhar as brincadeiras de criança. Eram raros os momentos em que eu saia para brincar com as outras crianças da minha rua, então, como tínhamos um grande e belo quintal, era lá que eu botava a minha imaginação para funcionar e minha cobaia e vitima era quase sempre o Duque.

Ele como um bom cão, sempre estava disposto a atender as minhas exigências seja qual fosse a brincadeira do momento. Para ele tudo era festa e motivo de grande latido, o que despertava a impaciência de minha avó...rs! Quando ela via que a nossa brincadeira já estava demais, começava então a nos ameaçar novamente, dizendo: "Vou bater em vocês dois!". Eram nessas horas que eu começava a fazer de tudo para que o Duque ficasse em silêncio, coisa que quase sempre era impossível de se conseguir.


De fato, eramos muito cúmplices um do outro. Às vezes minha avó me mandava entrar em casa como forma de castigo, e lá o Duque também ia de fininho atrás de mim. Ficava então com aquela cara de cachorro carente, mas logo estávamos dando um jeitinho para recomeçar nossa festa, sem que minha avó percebesse nossas artimanhas. Sempre estávamos próximos um do outro e a qualquer desatenção de minha vozinha, lá íamos nós, eu e o Duque na ponta dos pés e patas, parar novamente naquele grande quintal, mesmo eu sabendo e tendo consciência das ameças de minha avó...rs!

O Duque era mesmo um cão corajoso. Recordo-me que uma vez ele chegou a enfrentar uma cobra que surgiu em nosso quintal, que com o susto de seus latidos, acabou indo embora. Tínhamos esse cão como o nosso guardião dia e noite. Sempre dormia na parte de fora da casa, pois era o nosso vigia noturno e dava muito bem conta daquela leal função. Logo pela manhã, lá estava o Duque ansioso esperando para que a porta da cozinha se abrisse para tão logo se recomeçar a nossa jornada infantil e canina...rs!


Quando nos mudamos da cidade onde morávamos (Bragança-PA), para a Capital (Belém-PA), foi então para mim, um grande motivo de tristeza, pois não podíamos levar conosco o Duque, devido não irmos morar em uma casa própria e nem grande. Lembro até hoje o momento de nossa separação, quando ele foi entregue por minha avó, à uma família que ficou responsável por ele. A sensação era de que algo muito valioso de mim estava sendo tirado. Acabava então uma historia de amizade e companheirismo entre eu e aquele cão. Lembro-me dos seus latidos quando estava indo embora para a sua nova casa, com aqueles até então estranhos à ele.

Passados alguns anos, voltei à Bragança e fiquei na casa de um tio meu. O mesmo morava bem perto da  residência das pessoas que tinham adotado o Duque. Quando eu soube disso, fui então ver meu cachorro...rs! Eu ainda o considerava como meu, apesar da distância e do tempo sem o vê-lo. Ao me aproximar de Duque, lembro que ele começou a latir bem forte, não sei se era sinal de que estava me reconhecendo ou se era sinal de "pessoa estranha" se aproximando. Voltei de lá entristecido, pois lembro que para não arriscar em levar uma mordida dele, nem pude me aproximar para brincar e tocá-lo um pouco.


O tempo passou mais até hoje tenho boas e grandes lembrança desse cão-amigo. Com ele vivi momentos bem especiais e simples de uma criança solitária e sem muitas opções de brinquedos. O Duque era o meu brinquedo e ao mesmo tempo se comportava como outra criança ao meu lado. Pude descobri com aquele vira-lata negro, o real sentido da amizade e do amor, quando nada se quer em troca, apenas sim, fazer o outro feliz através de coisas bem simples.

O Duque não queria nada em troca de sua disposição e amizade, queria somente estar ali junto de mim, realizando as minhas peripécias e traquinagens infantis. Sempre estava pronto para uma nova aventura e diversão. Com ele não tinha tempo ruim, chuva ou sol, lá estávamos nós, correndo e pulando naquele belo quintal.

Assim foi mais um momento especial de minha vida, simples, mas cheia de emoções que eu não trocaria por qualquer outra forma de diversão hoje existente. Este cão marcou muito aquele momento de minha infância. Hoje com certeza, ele já não está mais entre nós, mas ficou vivo em minha memória. Tinha latidos fortes e cheios de alegria que sempre dava quando eu o chamava, pois ele sabia e sentia que mais uma nova aventura de nosso mundo. ia ser escrita e realizada. 
"Felizes os cães, que pelo faro descobrem os amigos."(Machado de Assis)

Comentários

  1. Ai que bela história com o Duque!! Realmente existem coisas que o tempo não apaga de nossas lembranças!

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