Mundo de gigantes: "A antena"


Quando se é criança a impressão que se tem é que tudo que você enxerga parece ter grandes proporções. É como se fossemos de fato pequeninos diante da grandiosidade das coisas que nos rodeiam. Comigo não foi diferente. Lá entre os quatro e oito anos de idade, acompanhei minha avó materna em suas idas e vindas ao comércio de nossa cidade natal. Nestas viagens, tudo para mim era motivo de distração e isso se dava pelo fato de sairmos de uma realidade periférica e pacata para adentrarmos num mundo mais urbano e mais central. 

Diante dos meus olhos tudo era novidade. Cada vez que nos distanciávamos da periferia e nos aproximávamos do centro, minha distração aumentava. Em alguns momentos, naquele impiedoso sol, minha avó tinha que puxar meus braços para que eu a acompanhasse, já que minhas forças não eram mais as mesmas daquele empolgado início de viagem. A cada passo e cada curva, minha atenção era totalmente voltada para aquele “mundão”.

Lembro-me que em alguns momentos literalmente eu parava de caminhar para contemplar tudo aquilo ao meu redor, mas aquela voz logo me alertava: “Vem menino!... caminha”. Quando me dava conta, aquela senhora de cabelos brancos já estava bem distante de mim, era preciso então correr para alcançá-la, com certo grito na garganta: “Mãe, me espera!...”.

Tudo era contagiante, as casas, igrejas, praças, as ruas, tudo fazia parte do meu imaginário mundo de gigantes. Mas algo diferente me fazia ficar extasiado e quase paralisado quando de longe o avistava. Aquilo me impressionava pelo seu tamanho, mas ao mesmo tempo me despertava a curiosidade de menino.

Aquele gigante lá à frente nada mais era do que a antena de transmissão da empresa de telefonia da cidade. De fato, seu tamanho não era tão comum, até hoje, logo na entrada da cidade, ainda é possível enxerga-la. Aquela antena me amedrontava e cada vez que me aproximava da rua em que se localizava, meu coração de criança ficava mais eufórico. A curiosidade superava todo o medo e ao passar em frente ao gigante de ferro, para mim era como ser engolido por seus grandes dentes de ferro. 

Ali diante de mim estava erguido aquele belo gigante de ferro. Parar aos seus pés era inevitável, ao passo de até doer o pescoço para contemplar por inteiro sua estrutura. Confesso que muitas vezes, já grandinho (rs), aquele mostro de ferro visitou meus sonhos, me fazendo viajar de volta naquele imaginário mundo infantil. Nos dias atuais ela ainda está de pé bem no centro da cidade. Todos ali vão e vêm e ela vai quem sabe, fazendo parte do mundo imaginário de muitos outros pequeninos que vêem o mundo ainda com um olhar inocente de uma criança que precisa de poucas coisas para trazer ao seu pequeno mundo, os gigantes que a vida vai lhes apresentando.




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